quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tempo


Deus pede estrita conta de meu tempo.


E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.


Mas, como dar, sem tempo, tanta conta


Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?


Para dar minha conta feita a tempo,


O tempo me foi dado, e não fiz conta.


Não quis, sobrando tempo, fazer conta.


Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.


Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,


Não gasteis vosso tempo em passatempo.


Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!


Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,


Quando o tempo chegar, de prestar conta


Chorarão, como eu, o não ter tempo...


(Poema de Frei António das Chagas - Meados do Século XVII)


Duas mulheres à janela, de Bartolomé Esteban Murillo, em 1670

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