sábado, 16 de maio de 2009

Não perdoar...


O homem aproximou-se do espinheiro.
Ergueu a mão para tocá-lo e um "ai!" de dor brotou de seus lábios.
Um rubi de sangue brilhou no seu dedo.
O homem limpou o sangue e disse fitando o espinheiro:
- Eu te perdôo!

Admirei e louvei dentro de mim aquele homem que possuía o doce dom de perdoar.


E aconteceu que veio outro homem.
Parou junto ao espinheiro, ergueu a mão para tocá-lo, e o espinho o picou.
Mas o homem limpou em silêncio a ferida, contemplou com amor o espinheiro, e não disse:
-Eu te perdôo!

Tive, então, este pensamento: 
- O primeiro homem era um santo:  sabia perdoar! 

Este outro não sabe!


Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma, disse:
- Quem não sabe é você!
- Como, Senhor? Então aquele homem...
- Sim, é um santo, porque  perdoou quando foi preciso!
- E o segundo?
- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de perdoar.


E como eu ficasse perplexo, com o olhar perdido na incompreensão e na dúvida, o Senhor me disse:
- O espinheiro fere, porque é espinheiro. Ainda que ele quisesse jamais poderia perfumar. 

O primeiro homem sentiu a dor da picada, e como não sabia nada, atribuiu a culpa ao espinheiro. 
Mas, como era puro de coração, perdoou. 

O outro homem sentiu a mesma dor, mas como sabia que todo espinheiro fere, pois o espinheiro é assim, não se sentiu ofendido.E como nada tinha a perdoar, não perdoou.

Desde então sofro menos quando os espinhos me ferem.
Dói-me na alma a ferida, mas minha alma sabe que não há ofensa.
E como não há ofensa, não há perdão.
É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho que não chegou a ser flor.
Meu sofrimento se transforma em ternura porque já aprendi a não perdoar! 


Santiago Argüello

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