“Saudade não se teoriza, se sente.
É presença da ausência, mas há saudade e saudade. Saudade cruel e saudade doce, boa.
A saudade cruel é aquela do que está longe. Do que vislumbramos, conhecemos até, mas não temos dentro de nós. Essa dói, machuca, tira o sono, maltrata, rouba o riso, modifica o olhar, entristece. Mas não é saudade, de fato, é falta. Falta do que, ou de quem não se tem.
Falta, é o verbo que tem cheiro de vazio, é lacuna; saudade é substantivo que se transforma em advérbio de intensidade, intensidade do sentir. É sensação, é plenitude, é lembrança. E somos afortunados, pois não há em outra língua verbete para traduzir esse sentimento.
Saudade boa, saudade, saudade, essa é doce.
Dói? Dói sim, mas não é cruel, é uma dorzinha boa de sentir, leve, que enche o peito, faz sonhar, sorrir, elevar o olhar para o passado, gera suspiros e é como afirmei, presença da ausência.
Nada torna mais presente o que está ausente do que sentir saudades. Saudade é vida. Só morremos quando esquecidos, quando não somos mais ausentes em ninguém e isso quer dizer que não existimos mais em nenhuma memória. Saudade boa é consciência de algo ou alguém.
Não sentimos nunca saudades do que não nos emocionou, provocou sorrisos, prazer, amor, êxtase, sentimentos verdadeiramente bons. E as músicas, os poemas, os textos, as canções, não servem para outra coisa senão para traduzir o que não conseguimos definir; para falar por nós, ratificar o que sentimos.
Então, se por acaso lhe vem à mente uma música antiga ou atual, brega ou moderna, se uma paisagem ou um céu estrelado, uma imagem do passado ou de alguém, lhe surgir na mente; ou se um trecho de um poema, de um texto qualquer, lhe provocar um suspiro, e de repente você sentir saudades. Não se espante, nem se entristeça; aproveite. Agora se alguém disser que sente saudades de você, comemore duplamente.
Triste é não ter do que ou de quem sentir saudades. E mais triste ainda é não deixar saudades em ninguém.”
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