Você é os brinquedos que brincou,
as gírias que usava,
você é os nervos a flor da pele no vestibular,
os segredos que guardou,
você é sua praia preferida,
Peba , Francês , Araguaia,
sua cachoeira, Tiquira, Vila Propício
você é o renascido depois do acidente que escapou,
aquele amor atordoado que viveu,
a conversa séria que teve um dia com seu pai,
você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe,
o sonho desfeito quase no altar,
a infância que você recorda,
a dor de não ter dado certo,
de não ter falado na hora,
você é aquilo que foi amputado no passado,
a emoção de um trecho de livro,
a cena de rua que lhe arrancou lágrimas,
você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado,
a força dada para o amigo que precisa,
você é o pelo do braço que eriça,
a sensibilidade que grita,
o carinho que permuta,
você é as palavras ditas para ajudar,
os gritos destrancados da garganta,
os pedaços que junta,
você é o orgasmo,
a gargalhada,
o beijo,
você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado,
a impotência de não conseguir mudar,
você é o desprezo pelo o que os outros mentem,
o desapontamento com o governo,
o ódio que tudo isso dá,
você é aquele que rema,
que cansado não desiste,
você é a indignação com o lixo jogado do carro,
a ardência da revolta,
você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica,
o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta,
você é os direitos que tem, os deveres que se obriga,
você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca,
você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste.
Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê.
(Martha Medeiros)
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