sexta-feira, 3 de abril de 2009

Quer saber?


Você é os brinquedos que brincou, 
as gírias que usava, 
você é os nervos a flor da pele no vestibular,
os segredos que guardou, 
você é sua praia preferida, 
Peba , Francês , Araguaia
sua cachoeira, Tiquira, Vila Propício
você é o renascido depois do acidente que escapou, 
aquele amor atordoado que viveu, 
a conversa séria que teve um dia com seu pai, 
você é o que você lembra. 
Você é a saudade que sente da sua mãe, 
o sonho desfeito quase no altar, 
a infância que você recorda, 
a dor de não ter dado certo, 
de não ter falado na hora, 
você é aquilo que foi amputado no passado, 
a emoção de um trecho de livro,
 a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, 
você é o que você chora. 
Você é o abraço inesperado, 
a força dada para o amigo que precisa, 
você é o pelo do braço que eriça, 
a sensibilidade que grita,
o carinho que permuta, 
você é as palavras ditas para ajudar, 
os gritos destrancados da garganta, 
os pedaços que junta, 
você é o orgasmo, 
a gargalhada,
o beijo, 
você é o que você desnuda. 
Você é a raiva de não ter alcançado, 
a impotência de não conseguir mudar, 
você é o desprezo pelo o que os outros mentem, 
o desapontamento com o governo, 
o ódio que tudo isso dá, 
você é aquele que rema, 
que cansado não desiste, 
você é a indignação com o lixo jogado do carro, 
a ardência da revolta, 
você é o que você queima. 
Você é aquilo que reinvidica,
 o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, 
você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, 
você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, 
você é o que você pleiteia
Você não é só o que come e o que veste. 
Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. 
Você é o que ninguém vê.

(Martha Medeiros) 

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