domingo, 2 de novembro de 2008

Quanto vale um "sim"


Quanto vale um "sim"
Martha Medeiros

Você consegue um bom emprego na hora que bem entender? Você descola um amor do dia pra noite? Entra num banco e sai de lá com um empréstimo sem burocracia? Se você respondeu sim a todas essas perguntas, parabéns... e fique atento para o horário de partida do seu disco voador, pois a qualquer momento você terá que voltar para o seu planeta!

Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara. Na maioria das vezes, não há vagas, não querem editar nossos poemas, não temos fiador, a garota não quer ouvir os discos na sua casa, o garoto não quer usar camisinha e o guarda de trânsito não foi com a sua cara e vai multa-lo, sim senhor. Não está fácil pra ninguém.
Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida. As coisas são assim, dão certo e dão errado. Pessimismo é acreditar que um "não" seja uma barreira para realizar nossos planos.
Tem gente que fica paralisado diante de um não, nunca mais vai à luta.
Já o otimista resmunga um pouco e, em seguida, respira fundo e segue em frente.

Quando eu tinha uns dezessete anos, mandei meus versos para um concurso de poesia. Não ganhei nem menção honrosa. Daí entreguei meus versos para o Mário Quintana avaliar. Ele não respondeu.
Neste meio tempo, eu estava apaixonada por um cara e ignorava minha existência. Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar sozinha, mas o meu estágio não era remunerado.
Aí quis viajar para a Europa, mas não conseguira entrar num programa de intercâmbio. Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de um caminhão.

Hoje tenho nove livros publicados, cinco deles de poesia, sou casada com o homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo isso sem ganhar na megasena, sem cirurgia plástica, sem pistolão o pacto com o demônio. O segredo: cada "não" que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Não os colecionei, não foram sobrevalorizados; 

esperei sem pressa a hora do "sim". O "não" é tão freqüente que chega a ser banal. O não é inútil, serve só pra fragilizar nossa auto-estima. Já o sim é transformador. O sim muda sua vida. "Sim", aceito casar com você; "sim", você foi selecionado; "sim", vamos patrocinar sua peça; "sim", Ana Paula Arósio deu o número do celular dela.


Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer sim." 

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